Bola de sebo de Guy de Maupassant
É um conto de vinte de poucas páginas que sua grandiosidade por retratar a natureza humana, tornou-se um clássico da Literatura Universal.
O contexto histórico da
história se passa em 1870, quando os prussianos invadiram a França e população
estava temerosa e vivendo sobre o domínio dos soldados inimigos. Além, de
sofrerem dificuldades por causa da guerra. A guerra franco-prussiana ou guerrafranco-germânica (19 de julho de 1870 - 10 de maio de 1871) ocorreu entreImpério Francês e o Reino da Prússia no final do século XIX. Durante oconflito, a Prússia recebeu apoio da Confederação da Alemanha do Norte, da qualfazia parte, e dos estados do Baden, Württemberg e Baviera. A vitóriaincontestável dos alemães marcou o último capítulo da unificação alemã sob o comandode Guilherme I da Prússia. Inclusive, marcou a queda de Napoleão III e dosistema monárquico na França, com o fim do Segundo Império e sua substituiçãopela Terceira República Francesa.
As famílias mais ricas(
como sempre em todas as épocas) da cidade alugam um carro para escapar. Entretanto
não estão sozinhos, a mais famosa prostituta da cidade, apelidada de Bola de
Sebo, por ser muito gorda fará companhia para eles. Todos sentem repulsa e
tentam ignorar a moça, mas ela tem comida e todos se rendem a ela porque estão
morrendo de fome. Tudo ia bem na viagem, os burgueses aparentemente tratavam a bola
de sebo como igual, mas são surpreendidos pelo um oficial prussiano que os
impede de seguir viagem.
Ele só deixaria eles
seguirem se tivesse uma noite de amor com a prostituta. Mas, ela não queria,
pois, era um inimigo da França. Bola de Sebo tinha seus princípios, logo os
outros viajantes tentaram convencê-la a passar uma noite com o oficial,
construindo justificativas para ela ceder. Na verdade, só pensavam neles e a
odiavam por causa de sua recusa, “ não era só uma prostitua.
“Destaquei
até uma citação de como os burgueses manobraram a ingênua prostituta... “Era um
argumento poderoso, de que a condessa se aproveitou. Então, ou por um desses
entendimentos tácitos, dessas veladas complacências, em que se sobressai quem
quer que use um hábito eclesiástico, ou simplesmente por efeito de um mal entendido
feliz, de uma providencial parvoíce, a velha religiosa trouxe para a
conspiração um formidável apoio. Julgavam-na tímida; ela mostrou-se ousada, até
mesmo violenta. Não era perturbada pelos rodeios da casuística; sua doutrina
parecia uma tranca de ferro; sua fé não hesitava nunca; sua consciência não
tinha escrúpulos. Achava muito natural o sacrifício de Abraão, pois teria
imediatamente matado pai e mãe, a uma ordem vinda do Alto; e nada, a seu ver,
podia desagradar ao Senhor quando a intenção era louvável. A condessa, explorando
a autoridade sagrada de sua imprevista cúmplice, obrigou-a a fazer como que uma
edificante paráfrase deste axioma de moral: "O fim justifica os
meios".
Ela
a interrogava:
-
Então, irmã, acha que Deus aceita todas as vias e perdoa o fato, quando o
motivo é puro?
-
Quem o poderia duvidar, madame?
Uma
ação censurável em si torna-se muitas vezes meritória pelo pensamento que a
inspira. E continuavam, assim, destrinchando os desígnios de Deus, prevendo
suas decisões, fazendo-o interessar-se em coisas que, na verdade, não lhe
diziam respeito. Tudo isso velado, hábil, discreto. Mas cada palavra da santa
mulher abria brecha na resistência indignada da cortesã.”.
Bola de sebo se achando
mártir e que aquelas pessoas eram amigas cedeu e mesmo forçada transou com
oficial prussiano. O “burgueses descentes” felizes por seguir viagem nem se
importaram com ela e ainda a desprezaram. Bola de Sebo seguiu viagem chorando
ao ver ser desprezada. Detalhe, ninguém lhe ofereceu um lanche para retribuir a
gentileza de ela ter oferecido para eles, quando estavam com fome.
Assim, o que achei
importante no conto é que o autor evidencia como as pessoas agem em relação aos
seus preconceitos e ódios de um jeito hipócrita enrustido. Os Burgueses nunca
engoliram Bola de sebo, aturaram-lhe porque ela foi a única que se lembrou de
levar mantimentos para fuga.
Mesmo tratando com respeito, o desprezo estava
velado e mesmo que a prostituta ajudasse, a raiva que sentiam aumentava cada
vez mais por ela.
De certa maneira, isso
acontecia com os invasores. Mesmo que os “nativos” convivessem em “harmonia”
com os soldados prussianos.
“Sempre
aconteciam assassinatos silenciosos de soldados estrangeiros. Constantemente
havia uma resistência que não era organizada, mas que existia nas sombras. Os
vencedores exigiam dinheiro, muito dinheiro. Os habitantes pagavam sempre; eram
ricos, aliás. Mas quanto mais um
negociante normando se torna opulento, mais lhe dói qualquer sacrifício,
qualquer parcela da sua fortuna que veja passar às mãos de outrem. No entanto,
alguns quilômetros aquém da cidade, seguindo o curso do rio, na direção de
Croisseti, Dieppedalle ou Biessart, os marinheiros e os pescadores traziam seguidamente
do fundo da água algum cadáver de alemão, inchado no seu uniforme, morto a
facada ou a pedrada, ou arremessado com
um empurrão do alto de uma ponte. A lama do rio amortalhava essas vinganças
obscuras, selvagens e legítimas, heroísmos desconhecidos, ataques mudos, mais
perigosas que as batalhas em pleno dia, e sem a repercussão da glória.”
Por isso o conto é tão
atual, porque se pode observar esse fato na atualidade. Trabalhadores
explorados que arrumam um jeito para sabotar o patrão explorador. Mesmo que na
frente acate ordens, mas quando chefe dá as costas, arruma um jeito de sabotar.
Enfim, é um conto de
muitas leituras e nos faz refletir sobre como não devemos nos iludir com as
aparências. O preconceito está escondido nos lugares mais sombrios do ser.
Mesmo num ambiente cordial, devem-se perceber as entrelinhas, senão, nem saberá
da onde partiu o bote fatal.
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