A Menor Mulher do Mundo de Clarice Lispector





Gosto muito de contos, não pelo motivo de serem curtos. Uma boa narrativa curta através da síntese mostra um pensamento ou um fato até então desconhecido.

Neste conto de Clarice mostra como uma notícia da descoberta de uma mulher pigmeu e grávida foi repercutida nas famílias e pelo pesquisador que a descobriu. Ao longo da narrativa, os assuntos sobre o amor, a felicidade e a solidariedade são questionadas. Principalmente, o que é o certo ou errado.
No primeiro momento todos a consideravam um brinquedo, uma pobre coitada, um animal  ou uma descoberta científica. O conto não deixa de fazer uma crítica a nossa sociedade, onde nos consideramos pessoas evoluídas e “caridosas” em relação.  A sempre dialética ente a Civilização(eu) X a Barbarie (o outro).

 “Há um velho equívoco sobre a palavra amor, e, se muitos filhos nascem desse equívoco, tantos outros perderam o único instante de nascer apenas por causa de uma suscetibilidade que exige que seja de mim, de mim! que se goste, e não de meu dinheiro. Mas na umidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonita uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha. Pequena Flor piscava de amor, e riu quente, pequena, grávida, quente.O explorador tentou sorrir-lhe de volta, sem saber exatamente a que abismo seu sorriso respondia, e então perturbou-se como só homem de tamanho grande se perturba. Disfarçou ajeitando melhor o chapéu de explorador, corou pudico. Tornou-se uma cor linda, a sua, de um rosa-esverdeado, como a de um limão de madrugada. Ele devia ser azedo.Foi provavelmente ao ajeitar o capacete simbólico que o explorador se chamou à ordem, recuperou com severidade a disciplina de trabalho, e recomeçou a anotar. Aprendera a entender algumas das poucas palavras articuladas da tribo, e a interpretar os sinais. Já conseguia fazer perguntas.Pequena Flor respondeu-lhe que "sim". Que era muito bom ter uma árvore para morar, sua, sua mesmo. Pois — e isso ela não disse, mas seus olhos se tornaram tão escuros que o disseram — pois é bom possuir, é bom possuir, é bom possuir. Fonte: http://claricelispector.blogspot.com/2008/04/menor-mulher-do-mundo.html

Para mim, este trecho é o ponto chave do conto.* Porque mostra que como em nossa sociedade há mecanismos e subterfúgios para se conseguir o que almeja. O amor muitas vezes é utilizado com moeda de troca.  Os valores cristãos são usados para inflar o ego dos indivíduos: “Como sou bom! Caridoso!”. Entretanto, a menor mulher do mundo, é autêntica na sua simplicidade. Ela fica feliz com coisas consideradas “banais”. 

Depois de ler o conto, veio-me a pergunta: “ Quem é mais feliz? Nós ou ela? Ou Eu ou Outro?”

* Espera um pouco, refiro-me sobre o tema que estou desenvolvendo, lógico que há outros temas, já que o texto é um universo.

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