William Wilson - Edgar Allan Poe/ HOMEM DUPLICADO de José Saramago
Depois de ler o romance do autor português, resolvi dar uma olhada no conto do escritor inglês. Mesmo em épocas diferentes e narrativas distintas, ambos abordaram a questão do duplo... "O que fariam se vissem uma pessoa igual a você, como se fosse uma imagem refletida no espelho?"
Esse tema é bem
explorado na literatura e nas mitologias antigas. Por exemplo, Doppelgänge nas lendas germânicas, é um monstro ou ser
fantástico que tem o dom de representar uma cópia idêntica de uma pessoa que
ele escolhe ou que passa a seguir. Imita em tudo a pessoa copiada, até mesmo
suas características internas mais profundas.
O conto de Poe segue
uma linha gótica e aterrorizante. O protagonista narra suas experiências e não
revela sua identidade, intitula-se William Wilson. Edgar Allan Poe não é moralista, mas a
narrativa mostra como William Wilson é mau caráter e se vê em conflito, quando
seu duplo aparece para desmascarar sua falta de escrúpulos. A epigrafe que
antecedo o conto de certa maneira evidencia a problemática do enredo. "Que
dirá ela? Que dirá a terrível consciência, aquele espectro no meu
caminho?"(Chamberlain - Pharronida) e comecei a pensar sobre o duplo, como
se fosse o lado da consciência do William Wilson, tentando redimi-lo de seu
mau-caratismo.
O romance do escritor
português mostra mais o cotidiano ordinário. O professor de história Tertuliano
Máximo Afonso vive sua rotina tranquilamente, até um dia, que um colega seu da
escola onde trabalha lhe indica um filme. Quando vai assisti-lo, descobre que
há uma pessoa igual a ele, um ator secundário. Tanto um como outro são homens
comuns até então. Inclusive, percebi um fato que vi em outros livros dele, os
quais li, é o descontentamento e o ceticismo do homem atual, principalmente, em
relação à humanidade por causa dos absurdos que se cometem ao longo da história
e hoje em dia...
Aí, os
personagens de Saramago perguntam-se quem é o original e quem é o duplicado? A
rivalidade não é entre o bem e o mal, mas em relação à identidade. Como se a
existência de um ameaçasse a do outro. Todavia, não há um duelo mortal, mas uma
junção de causas e efeitos que mudaram drasticamente a vida dos personagens.
Mostra ainda, como os indivíduos podem praticar coisas terríveis numa situação
absurda ou quando estão no limite, esquecendo-se do bom senso. O professor de
história discute com o bom senso, questionando-o toda hora. Na contracapa: A
epígrafe "O caos é uma ordem por decifrar" (Livro dos contrários)
ilustra como a realidade não é tão objetiva como se pensa, pelo contrário, há
várias janelas e universos que formam um labirinto, onde o homem, quando pensa
que está a sair, descobre que ainda precisa perpassar por outros caminhos.
Lógico que, neste ponto, o conto de Poe se
aproxima do romance de Saramago, expõem o lado obscuro do ser humano, que
sempre se deseja colocar debaixo do tapete.
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