As intermitências da Morte — José Saramago
"Não há nada no mundo mais nu que um esqueleto" José Saramago
Quando
comecei a ler o livro, fui ao dicionário para saber o que é intermitência:
sf (intermitente+ia2) 1 Qualidade
de intermitente; descontinuação. 2 Interrupção momentânea. 3 Interrupção numa
série. 4 Intervalo em fenômenos periódicos. 5 Med Manifestação característica
de certas febres ou outras doenças por acessos intervalados, fora dos quais o
doente parece curado. 6 Fenômeno patológico caracterizado por haver, entre duas
pulsações, um intervalo muito maior do que entre as outras; arritmia.
Depois
que aprendi uma palavra comecei a ler o romance que tem a mesma estrutura do
Ensaia sobre a Cegueira, os personagens não tem nomes e a narrativa parece um
ensaio, o qual mostra a prováveis experiências, sensações se o acontecimento se
concretizasse. Em Intermitência o romance é panorâmico, mostrando vários casos
sobre a ausência da morte. Divida-se em três blocos. Outro ponto bacana é que o
narrador não um narrador tradicional que sabe de tudo, pelo contrário, faz
retificações durante a narrativa, conversando com o leitor.
O
primeiro é a intermitência da morte, uma visão panorâmica dos acontecimentos a
partir do dia primeiro de janeiro, quando nenhuma pessoa não morreu mais
naquele país fictício.
Nessa
parte são colocadas as contradições da falta da morte, começa a surgir
especialistas nos meios de comunicação para falar a respeito, o governo procura
soluções, a Igreja tenta manter a fé e a formação de organização, a Maphia, a
qual levava os moribundos para descansarem em outro país, já que não se morriam
no lugar de origem. Logo, discuta-se a questão da moral e ética, inclusive, o
autor com muita ironia faz uma crítica em relação burocracia do Estado, que
leva muitas vezes um país à derrocada.
O
Segundo bloco uma carta é conduzida pela morte a uma emissora de televisão,
para que seja levada ao público a notícia de seu volta. Ela se ausentou por
algum tempo, porque não gostava do tratamento que sofria ao longo do tempo.
Muitos tinham medo e até raiva dela.
Então,
queria mostrar que ela era importante também para a humanidade. O interessante
que ela escreve na carte morte e não A Morte. Na verdade, é uma morte
específica de pessoas. O leitor percebe que o personagem principal dessa
história é a morte, esquelética e gelada. Todavia, para o romancista, modificar
a morte em personagem se torna um jeito de tratar da vida, com humor e ironia.
O
retorno vem com novas regras. Ela enviará uma carte em um tempo estabelecido ao
indivíduo que morrerá, assim ele terá de se despedir da família, amigos e
resolver questões da herança. Essa novidade levará reações diversas nas
pessoas, uns fazem orgias, outros praguejas e houve pessoas resignadas que se
despediram das pessoas queridas.
O
último bloco é que uma carta foi devolvida para Morte. Então, ela fica surpresa
e vai conhecer o homem que não recebeu a missiva. Era um violoncelista que
vivia sozinho com seu cão. A partir daí Morte se humaniza e se apaixona pelo
músico. Torna-se mulher e o músico ficou atraído por ela.
Saramago
ao tornar a morte como personagem nesse livro proporciona uma reflexão como
também faz parte da nossa vida. E que não deve só temê-la ou odiá-la. Mas,
amá-la também, pois faz parte da nossa própria vida.
***
Segue uma crítica do livro mais aprofundada. http://www.interrogacao.org/2010/06/livro-as-intermitencias-da-morte-jose-saramago/
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