A Consciência de Zeno de Italo Svevo, pseudônimo de Aron Hector Schmitz( 1925)
Confesso que este livro estava anos na minha estante, abria-lo e depois o fechava. Então, lia outros livros que achavam mais interessantes. Agora em 2013, resolvi lê-lo e foi um achado bacana. Não me arrendo de não tê-lo lido antes, porque não estava pronto para ele. Só agora.
O
que achei mais interessante é que o romance mostra como escrever sobre si ajuda
no autoconhecimento. Mesmo que se tente fugir disso muitas vezes. Inclusive o livro
evidência como a gente é mal preparada para lidar com os sentimentos e,
consequentemente, desenvolve-se doenças e dores físicas, sem motivos aparentes.
Enfim, o corpo não é só máquina e sim alma.
O
romance começa com um prefácio que faz parte do romance, não é um texto introdutório
de outro escritor sobre a obra. O Doutor S. diz que é psicanalista do
protagonista Zeno que publica a biografia do paciente por vingança por ter abandonado
o tratamento e que dividiria até os direitos autorais se voltasse ao
tratamento.
Em
seguida, Zeno escreve sobre suas memórias desde a infância, o casamento, a vida
adulta e profissional. Durante toda a sua vida sofrera de dores e doenças, que
não tinha origens físicas, mas de sua própria cabeça. Como se conceituava, era
um doente imaginário, o qual tem consciência de estar doente. Diferente do
doente real, que não percebe a doença se manifestando.
O
narrador-protagonista constrói uma narrativa irônica, principalmente por
criticar a sociedade burguesa que vive de aparências. Zeno tropeça pela vida,
tentando desempenhar o papel de cidadão honrado. Entretanto, fracassa e começa
a contrair moléstias imaginárias e a ficar viciado no fumo.
Trocou
de faculdades e não tinha dom de cuidar dos negócios do pai falecido. Casou com
a mulher que não havia escolhido e mesmo amando-a depois, traiu-a. O personagem
é típico da literatura contemporânea, mergulhado em um cotidiano enfadonho. É
um anti-herói, que se diferencia dos personagens do romantismo e da tragédia.
A
reflexão sobre as impressões e lembranças, submetidas ao olhar implacável, mordaz
e às vezes hilariante de Zeno, consegue libertar-se das mazelas e não de suas
pequenas obsessões. Todavia, descobre que pode lidar com elas.
Percebi,
quando terminei o livro, que Zeno debocha até da psicanálise. Discorda do
diagnóstico do psicanalista. Pois, não é verdadeiro nas suas memórias. Inventa
algumas coisas, manipulando o olhar do terapeuta.
Outra parte do livro que me chamou a atenção foi a reflexão
de Zeno em relação ao homem com a natureza. Que diferente dos outros animais
que vivem a natureza, produzem artefatos que enfraquecem sua essência. Curioso
que o romance seja tão atual apesar de mais oitenta anos de sua publicação.
Concordo
plenamente, esses objetos se torna um problema, quando a tecnologia deixa de
ser um acessório, tonando-se parte do ser humano.
Chega
até ser profético o autor através das reflexões de Zeno ao dissecar o homem.
Prevendo até as catástrofes da Segunda Guerra Mundial, devido a esses
artefatos.
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Sobre o livro:
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