A MAÇA NO ESCURO DE CLARICE LISPECTOR




“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” Clarice Lispector

Confesso que os livros de Clarice, inclusive, este me fazem pensar sobre as várias realidades que existem e de como a humanidade é só um olhar interpretado da realidade, a qual não deixa ser imensurável. Anos atrás, li A PAIXÃO SEGUNDO G. H.( Clarice Lispector) que discutia a dialética da vida humanizada X o vivo. A personagem se transporta ao mundo vivo que antecede ao humanizado, quando viu a massa branca da barata morta.

Em A MAÇA NO ESCURO narra-se a jornada interior de Martim, que foge da cidade porque acredita que matou a mulher e se entranha no interior do Brasil. Nesta viagem, ele se despe de sua humanidade e adentra na escuridão de seu lado mais primitivo, conectando-se com a natureza em si das coisas. Ele estende a maçã no escuro e a reconhece nos dedos desajeitados pelo amor de que a fruta é uma maçã. Martim não pedia mais o nome das coisas, só lhe bastava reconhecê-la no breu. O livro é divido em três capítulos: “Como se faz um homem”, “Nascimento de um herói” e “A maçã no escuro”.

Martim se descontrói como homem para compreender o que se passava no seu interior e no mundo ao seu redor e, quando encontrou a fazenda de Vitória, despertou sentimentos adormecidos nas duas mulheres que moravam no sítio. A “ tonta” Ermelinda e a dona do lugar, Vitória. As duas através de Martim fazem suas respectivas jornadas nas suas existências e o aparente sossego que viviam, desmanchou-se no ar.

Enfim, A MAÇA NO ESCURO estimula sensações, não quis pensar muito em compreender. Quis entrar no escuro, também, e sentir a história. Acho que Clarice desejaria isto, mostrar através de outras formas como os personagens são famintos por procurarem seus lugares no mundo e até entrar em conto com o divino, como os outros animais fazem, pois não ficam no pensamento, são o  que são desde os primórdios.


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