Quem nunca?
Imagem encontrada no google
Arrependeu-se do que fez? Quem nunca achou que fez uma coisa
maravilhosa e o tempo prova que foi o contrário? Questiono porque fiz um conto
que na época achei um máximo, mas, agora, percebo que escrevi uma história
cheia de estereótipos e preconceituosa. Construí a imagem do outro
completamente vazia e caricata. Deu-me vontade de deletar, porém, não farei
isto. O conto mostra como fui um dia e como estou numa constante mudança. Sabe,
já escrevi tanta merda nesta vida... Ainda bem que tenho consciência deste
fato. Este conto, republiquei várias vezes me achando o máximo. Hoje, ao relê-lo
percebi que cai na mesmice. Patético! Sou patético, logo existo! Não é mesmo? Seguirei acumulando salvo rasuras e em tempos, tentando consertar e superar
minhas cagadinhas que deixo pelo caminho.
*****
FLERTE
Ela me olhava pela janela. Estava malhando, podia sentir sua
respiração ofegante sob o véu. Escancarei a janela, queria que visse o meu
corpo musculoso. Quando nos encontrávamos no metrô, ela não dizia nada, mas, o
corpo falava tudo. Tentava se esconder ainda mais naquele véu colorido. Será
que ela sabe a dança do ventre? Perguntava-me sempre. Via algumas aulas na
academia, ficava com tesão de ver as mulheres remexerem as barrigas definidas e
com piercing nos umbigos. Será que ela queria dançar para mim. Sempre ouvi que
os olhos são o espelho da alma. Podia ver seus olhos em chamas sob o véu
colorido.
Ficamos alguns meses assim. Abria a janela e ela se escondia na
escuridão do seu apartamento. Porém, um dia, a campainha tocou. Fui atender sem
camisa, estava suado. Tive uma surpresa. Era ela toda coberta com um vestido
que parecia uma manta espessa. Fez um gesto para eu me sentar. Começou a se despir,
mas continuou com o véu. Atrás de tantos panos, havia a típica roupa das
dançarinas da dança do ventre. Pegou na bolsa um cd e colocou no som. Eu não
sabia se estava maluco ou se era realidade. Ela transbordava sensualidade, ao
fazer movimentos desta dança milenar. Senti-me um califa.
Quando terminou, veio à minha direção. Sentou no meu colo.
Percebi que estava segurando um pequeno frasco. Sem dizer uma palavra, me fez
beber um líquido doce. A partir daí, não me lembro mais de nada.
Acordei no sofá. Estava coberto com o edredom e numa das mãos
estava com o véu colorido. Fiquei atordoado. O que teria acontecido? Liguei a
TV, como sempre fazia de manhã. Há primeira coisa que vi, um vagão todo
retorcido e em chamas. Quando a repórter disse a localidade do atentado, senti
um calafrio. Sempre passava por ali, para trabalhar e encontrava a mulher
misteriosa do véu multicolorido. Minha mente estava confusa. Comecei a fazer
conexões, quando a repórter disse que os sobreviventes e testemunhas viram,
minutos antes, uma jovem coberta por véus entrar no vagão do metrô, segundos
depois, aconteceu há explosão. Não podia ser! Dias depois, a suspeitas se
concretizaram. Era ela. Maldita!! Por que fez isso? Poderíamos ter nos
conhecido melhor. Mas, era uma mulher-bomba e foi até o fim na sua missão.
Matou milhares de pessoas inocentes,
mas, salvou-me. Senti ao mesmo tempo culpa e felicidade por estar vivo.
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