Opera dos mortos de Autran Dourado




Lançado originalmente em 1967, conta a história de uma família tradicional do interior de Minas Gerais. No passado da família Honório Cota a partir de um velho sobrado que, em sua arquitetura barroca, já corroída pelo tempo, vai revelando o destino de seus moradores, marcados pela tragédia, numa cidadezinha no interior de Minas Gerais.

O interessante do livro é como foi escrito, pois, mostra o interior dos personagens e como se sentiam em conflito o tempo todo.   Não tem um narrador definido, pelo contrário, ele se funde nas vozes e pensamentos dos personagens. 

Em Ópera dos Mortos de Autran Dourado, a linguagem será a dos sentimentos pessoais, fermentados, cristalizados e expressos segundo os meios de comunicação de cada protagonista. Há a intervenção de um narrador,  o  qual se afasta do modelo do narrador oniciente, revela-nos ser alguém que teria vivido na época e presenciado alguns fatos, mas não todos. Por isso, relata algumas coisas enquanto outras, apenas imagina ou supõe.  Vale lembrar que o romance possui oralidade, como e alguém contasse a história. A sua narrativa não linear aborda, também, mostra as relações de poder e os preconceitos sociais da sociedade de uma forma indireta, através das vozes dos personagens.


 Inclusive, o romance trabalha com a memória afetiva dos personagens e como o casarão da família, com seus relógios antigos e parados possuem um significado profundo para a história dos personagens. Considerei-os até personagens também( no meu ponto de vista). 

Os personagens, apesar de suas condições sociais, vivem a solidão e os efeitos do tempo. Eles ficam sufocados pela atmosfera do casarão e pelas horas mortas que os fazem relembrar  de seus respectivos passados.

Outra imagem que me chamou a atenção foi a voçoroca na cidade, principalmente, no cemitério. Para quem não sabe, voçoroco significa: “Escavação no solo ou em rocha decomposta causada por erosão do lençol de escoamento de águas pluviais; boçoroca, buracão, vossoroca.”.

Os personagens estão à beira desta cratera e prestes a cair neste abismo. Vivem em um caos quieto e entediante de uma cidade do interior. Mas, estão queimando por dentro.


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