Janela sobre a memória (I) de Eduardo Galeano
À beira-mar de outro mar, outro oleiro se
aposenta, em seus anos finais.
Seus olhos se cobrem de névoa, suas mãos
tremem: chegou a hora do adeus. Então acontece a cerimônia de iniciação: o
oleiro velho oferece ao oleiro jovem sua melhor peça. Assim manda a tradição,
entre os índios do noroeste da América: o artista que se despede entrega sua
obra-prima ao artista que se apresenta.
E o oleiro jovem não guarda esta peça
perfeita para contemplá-la e admirá-la: a espatifa contra o solo, a quebra em
mil pedacinhos, recolhe os pedacinhos e os incorpora à sua própria argila.
***
Ao
ler este texto comecei a pensar sobre outros aspectos que com certeza o autor
não pensou na hora de escrevê-lo. Mas,
mesmo assim, divagarei um pouco, já que depois da leitura me lembrei do
conceito da Antropofagia Cultural e de como ela é importante para a
sobrevivência do conhecimento humano.
Se
observarmos bem, nada é original em si. Existe um processo de saberes
anteriores que ao longo do tempo são digeridas e transformadas em outros
conhecimentos. Quando o indivíduo digere as informações e a modifica para
complementar seu olhar, torna-se criativo. Diferente do que só reproduz como um
gravador e contempla passivamente a obra do outro.
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