OS TRABALHADORES DO MAR DE VICTOR HUGO
Tinha este livro há alguns anos na
minha prateleira, mas nunca tive coragem de lê-lo. Um dia, por indicação na
internet e de uma ex-colega de trabalho, decidi ler.
Confesso, achei o texto muito
descritivo ( da época), todavia, encontrei lindas passagens, principalmente, em
relação às descrições sobre o mar. O autor mostra que estudou os ventos e o mar
e como funcionam. Inclusive, a vida dos
seres mais primitivos que habitam a vastidão dos oceanos.
" São singulares as solidões das águas. É o tumulto e o silêncio. O
que aí se faz já nada tem o gênero humano. É a utilidade desconhecida. Tal é o
isolamento do rochedo Douvres. Em derredor, a perder de vista, o imenso
tormento de vagas."
“ O vento é cheio de mistério. Do mesmo modo o mar. Também ele é
complicado; debaixo de suas vagas de águas, que se vêem, há outras vagas de
forças, que não se vêem. Compõe-se de tudo. De todas as misturas, a do oceano é
a mais invisível e mais profunda.”
“... As iam dobrar as suas tranquilas toalhas nas faces quadradas daquele
enorme rochedo negro, espécie de pedestal para os espectros do mar e da noite.
Tudo aquilo estava mudo e morto. Havia apenas um sopro no ar e uma ruga
nas ondas. Debaixo daquela superfície muda de água adivinhava-se a vasta vida
afogada das profundezas.”
O romance mostra a luta que o homem
tem com a natureza e como o amor pode sobrepujar a ganância do ser humano. O
protagonista( Gilliat) está à margem da sociedade em que vive, tanto para os
humildes e supersticiosos pescadores da localidade e como os burgueses.
À guisa de apresentação, o editor
escreve na primeira página:
“A religião, a sociedade, a natureza: tais são as três lutas do homem.
Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades; precisa crer,
daí o templo; precisa criar, daí a cidade; precisa viver, daí a charrua e o
navio. Mas há três guerras nessas três soluções. Sai de todas a misteriosa
dificuldade da vida. O homem tem de lutar com o obstáculo sob a forma
superstição, sob a forma preconceito e sob a forma elemento. Tríplice 'ananke'
pesa sobre nós, o 'ananke' dos dogmas, o 'ananke' das leis, o 'ananke' das
coisas. Na Notre-Dame de Paris, o autor denunciou o primeiro; em 'Os
Miseráveis', mostrou o segundo; neste livro indica o terceiro. A essas três fatalidades
que envolvem o homem, junta-se a fatalidade interior, o 'ananke' supremo.”(
Hauteville-house, março de 19866)
Mas, Gilliat se sacrifica para o bem
da amada, quebrando assim as três fatalidades citadas à cima. É um herói
romântico que está além das superstições, da ganância da força da natureza.
O romantismo de Gilliat não é só o amor
romântico e sim um visão altruísta, o qual se contrapõe ao pragmatismo do
cotidiano. Torna-se um anjo marginal
convivendo com a mesmice. Eu gostaria de ser que nem ele, contudo, sou muito
imperfeito...
Demorei de ler o romance, mas o
importante é que o li agora. Valeu apena
de ter comprado há anos atrás.
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