Direito à Preguiça de Paul Lafargue
Comprei este livro nos tempos idos de Faculdade e deixei na minha estante por anos. Um dia, resolvi lê-lo novamente. A obra é um panfleto revolucionário que questiona a valorização do trabalho e demonização da preguiça. A edição que eu tenho é da Editora HUCITEC, UNESP e Introdução de Marilena Chaui. Paul Lafargue foi um revolucionário jornalista socialista franco-cubano, escritor e ativista político. Ele foi genro de Karl Marx, casando-se com sua segunda filha Laura.
Neste panfleto, o autor criticou os valores burgueses e protestantes que colocam o trabalho como benção e a preguiça como degradação. Justamente, fez referência aos filósofos antigos da Grécia que argumentavam o contrário. Presavam o tempo livre para pensar e viajar na imaginação. Lafargue considerava errado o proletariado reivindicar por trabalho, pelo contrário, deve-se exigir direito ao tempo livre.
“ Sabe-se, hoje, que Lafargue pensara, inicialmente, em intitular seu panfleto como Direito ao lazer e, depois, como direito ao ócio. A escolha da preguiça não foi casual. O título original foi: O Direito à Preguiça. Refutação de Religião de 1848. Ao escolher e propor como um direito um pecado capital, o autor visa diretamente ao que denomina “ Religião do trabalho”, credo da Burguesia( Não só a francesa) para dominar as mãos, os corações e as mentes do proletariado, em nome da figura assumida por Deus, O progresso. Essa escolha é duplamente consistente...” Da introdução de Marilena Chaui.
O panfleto questiona, inclusive, que o proletário apesar de trabalhar exaustivamente, continua na penúria, já que o lucro vai para burguesia. Além de como a superprodução, leva ao desequilíbrio da economia, superando a demanda e excedendo a produção. Quem se ferra ainda mais? Os trabalhadores. Não se pode esquecer! Lafargue possui esperança de que com surgimento das máquinas, o proletariado teria mais tempo livre. Porém, isso não aconteceu. Os trabalhadores ficaram cada vez mais reféns da classe dominante burguesa.
É evidente que há certas ressalvas ao se comparar a época em que o panfleto foi escrito e os dias atuais. Em 1880 era o Capitalismo Industrial e no século XXI é o Capitalismo Financeiro refere-se à terceira fase do sistema econômico capitalista que surge em meados do século XX, com a Terceira Revolução Industrial e está presente até os dias atuais. Os bancos e outras instituições ligadas ao sistema financeiro, são os principais agentes dessa fase. As relações de trabalho são diferentes.
No industrial, o proletariado sabia quem era o patrão e existia até uma interação social. No Financeiro, os empregados ou funcionários não conhecem seus patrões. Eles estão em seus paraísos, só transferindo dinheiro e aplicando na bolsa de valores para ficarem mais ricos. Os empregados começam a ser chamados de colaborares e existe uma flexibilização dos direitos trabalhistas. Entretanto, apesar dos contextos históricos diferentes, o panfleto Direito à Preguiça ainda é atual, visto que proporciona ceras questões sobre a liberdade e o aprisionamento da “Religião do trabalho”.
Mesmo sendo autônomo ou colaborador, você é livre? Você gera riqueza para si mesmo, diferente do proletariado? Ou os bancos comem tudo? Mesmo ganhando mais sem vínculo empregatício, será que está melhor que o operário de cem anos atrás?
Enfim, não almejo detonar o Capitalismo e elogiar o Socialismo ou o Comunismo. Na teoria, estes sistemas são maravilhosos. O problema quando entra as pessoas, corrompem tudo. A pretensão deste texto mal escrito é compartilhar este panfleto, para que a gente possa refletir sobre a valorização do trabalho e o progresso e de como são conceitos construídos a partir de uma época.
Talvez seja interessante para de trabalhar tanto e ter um tempo livre para pensar, ficar à toa, caminhar, apreciar a natureza e fruir qualquer tipo de arte. Essas “coisas” alimentam nossa existência, também.
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