SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA DE EDNEY SILVESTRE




Dois meninos encontram um corpo de uma jovem e este fato se transforma num ripo de passagem para vida adulta. A moça assassinada entra em seus imaginários, que constroem uma visão lúdica e erótica ao mesmo tempo.  Para contrastar a imaginação dos meninos, o velho aposentado descrente do mundo é o lado do realismo do que acontece na cidade interior em vivem. Os desmandos de uma elite escravocrata que se travestem de moderno.

A narrativa da história é fluída e entra nos pensamentos dos personagens, mostrando seus conflitos e de como o cadáver da moça que se chamava Anita os assombrou. A epígrafe do livro resume a essência da história: “Os mortos não ficam onde estão enterrados” John Berger, Aqui nos encontramos. Anita vira uma personagem nas lembranças dos garotos e do velho.

Outro ponto positivo do romance foi a capacidade do autor inserir os elementos históricos no enredo sem ficar didaticamente chato. Em 1961, quando o romance se passa. O Brasil sofre transformação, de grandes mudanças econômicas e sociais. Todavia, há bastante preconceito, racismo, machismo, divisões sociais e relações complicadas de poder. Logo, o escritor mostrou ser um bom narrador.

Além disso, como a narrativa mescla os olhares lúdicos dos garotos e mais descrente do velho, o romance ficou mais rico. Esta escolha do autor foi muito importante para o livro não ficar muito pesado, pois, aborda temas muito sombrios. Também, sai um pouco do realismo bruto e seco que muitos escritores e cineastas usam e abusam.
Edney Silvestre sai deste lugar comum e consegue sublimar cenas que são impensáveis de existir esta possibilidade.

“Se eu fechar os olhos agora, ainda posso sentir o sangue dela grudado nos meus dedos. E era assim: grudava nos meus dedos como tinha grudado nos cabelos louros dela, na testa alta, nas sobrancelhas arqueadas e nos cílios negros, nas pálpebras, na face, no pescoço, nos braços, na blusa branca rasgada e nos botões que não tinham sido arrancados, no sutiã cortado ao meio, no seio direito, na ponta do bico do seio direito.
Eu nunca tinha sentido aquele cheiro pungente antes, aquele cheiro que ficaria para sempre misturado ao cheiro das outras mulheres, das que conheci na intimidade, que invadiria o cheiro de outras mulheres e que para sempre me levaria de volta a ela. Aquela mistura de perfume doce, carne cortada, suor, sangue e — o mais próximo que consegui perceber, até hoje — sal. Como se sente quando próximo do mar. Como quando adere à pele. Não os grãos do sal — mas a poeira invisível e olorosa do sal em dias úmidos..”

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