O DUPLO de Dostoiévski (1846)




O protagonista Yákov Pietrópovitch Golyádkin vive à beira do abismo. Sente-se esquecido e menosprezado por todos. Além, de ter a absoluta certeza que possui inimigos por toda a parte.

Ao longo da narrativa, o leitor se depara com suas angústias e delírios que mostram como o personagem é frágil em relação à sociedade em que vive. Aliás, um fato irônico que o narrador usa a palavra herói para mencionar Golyádkin. Ele não representa literalmente um herói, pelo contrário, é fraco mentalmente e fisicamente e não tem forças suficientes para enfrentar seus inimigos. Portanto, o protagonista se aproxima com nossa realidade. Por exemplo, será que somos livres? Quem nunca se sentiu oprimido por todo mundo? O “herói” do romance está mais perto do homem comum que precisa lidar com as neuroses e angústias para poder sobrevier o dia-a-dia.

De repente, para piorar a situação de Golyádkin aparece um indivíduo igual a ele, o qual é muito mais popular no trabalho e que começa a ganhar espaço. A partir daí, a situação de nosso “herói” fica mais complicada. O seu duplo pretende pegar seu lugar.

 A impressão que tive, que Golyádkin se despencou no abismo, onde a realidade e a imaginação se misturaram, mergulhando num estado esquizofrênico. Antes, os inimigos eram externos. Agora, o opositor era igual a ele. Como iria proceder para superá-lo? Inclusive, este conflito me fez refletir sobre a constituição do eu ser fragmentado, existindo outros dentro de cada indivíduo.

O que percebi na minha primeira leitura, de como a história se aproxima com a literatura¹ contemporânea de mostrar como o ser humano é frágil, por não se compreender e nem entender a realidade em que vive.

 Mas, apesar desta situação, nós continuamos a viver e a enfrentar as batalhas do cotidiano. De uma certa forma somos “heróis”, mesmo que sejamos devorados pela vida. 

 ¹ “A Literatura Brasileira Contemporânea engloba as produções do final do século XX e da primeira metade do século XXI”

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