MEMORIAL DE AIRES-MACHADO DE ASSIS
“Tudo serão modas neste mundo,
exceto as estrelas e eu, que sou o mesmo antigo sujeito, salvo o trabalho das
notas diplomáticas, agora nenhum.”( Aires)
Foi
seu último romance e houve uma comunhão entre o livro e o momento em que estava
passando. Ajudou-me a refletir como somos efêmeros em relação ao tempo e a
própria vida.
A
estrutura do livro é como se fosse um diário. Aires escreve fragmentos sobre
seus pensamentos e as pessoas que conhece ao longo do caminho. O
protagonista-narrador aparece em Esaú e Jacó, o qual conta a história dos
gêmeos que sempre brigaram, mesmo no ventre da mãe.
No
memorial, além das reflexões sobre a finitude das coisas, Aires é um diplomata
aposentado, conta-se a história do casal Aguiar que apesar de viver o
verdadeiro sentimento do casamento, há certa tristeza de não ter filhos. Por
isso, apega-se ao Tristão, mas, o menino viaja para Europa e fica anos lá.
Depois, o casal adota a jovem viúva Fidélia, que sofre muito com a perda
prematura do marido. Não tem aventuras, mas relatos “aparentemente” monótonos,
que evidenciam a finitude de todos nós.
Não
quero fazer um resumo ou análise do livro.
É só procurar no google, que encontrará bastante material. Desejo
compartilhar como o romance de certa maneira dialogou com o momento que estou
passando.
Machado
através de Aires mostra como não podemos nos importar tanto com Status, pois a
vida é tão breve. Não se devem acumular as gavetas e a memórias com coisas sem
importância, mas guardar as recordações que velem a pena. A morte faz parte da
vida e quando ela acontece, o mundo continua a viver. O livro faz menção à
abolição da escravidão, que foi um momento de ruptura com o tempo antigo.
A
jovem viúva Fidélia mesmo amando o marido morto, até brigou com o pai, encontrou outro amor, Tristão. Então,
mesmo tendo afeição ao falecido, foi viver uma nova história, já que não
precisa exterminar o falecido da memória para viver um novo amor. “ A vida
continua”, como a separação do casal Aguiar com os filhos postiços: Tristão e
Fidélia:
“Praia
fora (esqueceu-me notar isto ontem) praia fora viemos falando daquela orfandade
às avessas em que os dois velhos ficavam, e eu
acrescentei, lembrando-me do marido defunto: — Desembargador, se os mortos vão depressa, os
velhos ainda vão mais depressa que os
mortos... Viva a mocidade!”
Campos
não me entendeu, nem logo, nem completamente. Tive então de lhe dizer que
aludia ao marido defunto, e aos dois velhos deixados pelos dois moços, e
concluí que a mocidade tem o direito de viver e amar, e separar-se alegremente
do extinto e do caduco. Não concordou, — o que mostra que ainda então não me
entendeu completamente.”
Mesmo
o romance sendo melancólico há uma serenidade e resignação nos personagens para
encarar os acontecimentos, inclusive, a brevidade de suas respectivas vidas.
Aires quando se aposentou se desfez de muitas cartas e documentos que juntou
quando era embaixador. Agora, encara a velhice e as dores reumáticas
tranquilamente, sem ficar revoltado. Só fica um pouco irritado. O “declínio” é
visto como uma ordem natural. Até a solidão do casal Aguiar: “Consolava-os a saudade
de si mesmos.”.
Enfim,
mostra que a vida é um ciclo e que é muito mais que fatos históricos, estátuas
e documentos oficiais. A velhice,
solidão e a morte chegam para todos e precisamos estar preparados para isso,
apesar de ser difícil compreender...
***
Obs:
Mesmo que os personagens e a história sejam serenos e até resignados, não se
pode deixar de dizer que a ironia machadiana aparece no romance e que é muito
engraçado por ser bastante atual.
***
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